sexta-feira, 17 de abril de 2015

Champions League - Porto vs Bayern





























Perfeito.


Há momentos, em que todo o vocabulário que pensamos conhecer se torna pequenino, insignificante, para podermos descrever algo que, de tão único, tão belo, tão sublime, nos transcende. Na 4ª feira, dia 15 de Abril de 2015, um novo degrau se construiu na escadaria de vitórias sem igual do clube que amamos. Na 4ª feira, aquele relvado milimetricamente cortado teve a honra de ser o palco dum dos momentos mais incríveis a que pude assistir desde que vejo futebol. Há pouco mais de 24h, Basileia, Viena, Tóquio, Sevilha, Gelsenkirchen e Dublin sorriram entre si, e aplaudiram de pé os heróis de azul-e-branco que, de queixo bem levantado e com a crença inabalável no poder dos sonhadores, bateram o pé a uma das melhores equipas do Mundo, orientada pelo melhor treinador do Mundo.

Ainda tentava adaptar-me ao lugar "oferecido" pelo meu irmão (companheiro de batalha em alguns jogos), e já Neuer derrubava Jackson dentro da grande-área (por esta altura,Xabi Alonso ainda deve estar à procura do tanque que o atropelou quando pensava o que ia fazer com a bola). 1-0, num início que dificilmente poderia ser melhor. Seria mesmo assim?

Decorria o 10º minuto do jogo, e as minhas sinapses entraram em curto-circuito. Por instantes, enquanto via Quaresma a correr de braços abertos em direcção ao mar de portistas que explodia em êxtase, como se naqueles braços quisesse tomar todas as milhares de almas que se beliscavam para terem a certeza de que tudo aquilo que os olhos viam era mesmo real, não consegui festejar. Nem um som, nem um gesto, nada. Olhei em volta... Caras felizes, sorrisos rasgados e lágrimas a rolar em catadupa; abraços entre estranhos, e pais e filhos, e avôs e netos, e maridos e mulheres. Tudo unido. Tudo em êxtase. Tudo Porto.

Ah e Quaresma, se leres este texto, considera aquela agonizante eliminatória com o Schalke absolutamente perdoada!

10 minutos de jogo: F.C.Porto 2 - 0 F.C. Bayern - sejam honestos, alguma vez sonharam com um início tão prometedor?

Depois veio o tempo de regressar à Terra. De roer as unhas, enquanto aquele futebol magníficamente rendilhado dos bávaros punha alguma calma no jogo. Foi tempo de ser paciente, aguentando bem os momentos de pressão ofensiva, evitando abrir buracos no corredor central (onde se sabe que os alemães são mortíferos). No primeiro "erro" do jogo, um 2-1 demasiado penalizador para o que foi o domínio territorial e para as reais ocasiões de perigo da 1ª parte. 

O intervalo, sendo obrigatório, devia ser banido de alguns jogos. Pelo menos, para nós, doentes incorrigiveis (em concreto para mim, pessimista irredutível), devia haver um botão que fizesse "fast-forward" naqueles intermináveis 15 minutos. Na minha mente, poderia vir aí uma 2ª parte de muitos nervos, fosse porque Pep Guardiola iria sacar da sua varinha mágica e encontrar-nos algum ponto fraco, fosse pela dúvida acerca da capacidade de ver a nossa equipa ter pernas e pulmões para aguentar outros 45 minutos jogados com aquela intensidade.

Felizmente, para gajos como eu - sempre um pouco pessimistas, mesmo que o resultado nos seja favorável, por 5-0, e faltem 10 minutos para terminar o jogo - há bofetadas que vêm com a força certa, na dose certa, no momento certo. Foi um esbofeteamento saboroso, emocionante, merecido, aquele que o meu Porto me deu durante os 45 minutos da 2ª parte, onde por momentos, o peso-pesado alemão mais não fez do que encostar-se às cordas e proteger-se como pôde. Guardiola acabou por dar credibilidade a esta análise, quando decidiu trocar Gotze por Rode ainda com 2-1 no marcador, como que procurando segurar a desvantagem mínima e minimizar danos.

Depois de Neuer ter provado que, de vez em quando, há milagres a acontecer em campos de futebol, ao desviar aquele remate de Herrera praticamente por instinto (após uma jogada colectiva que foi um hino ao futebol), foi Jackson, o nosso Monstro, o nosso herói "cafetero", que numa demonstração de poder físico, classe e frieza, conseguiu materializar em golos os 45 minutos mais admiráveis que me lembro de ver uma equipa de azul-e-branco fazer desde o Porto-Lázio em 2003. Não me contive desta feita. Para além de quase ter arrancado as cabeças dos desgraçados dos "vizinhos do lado", enquanto me abraçava aos dois metros de pessoa que constituem o meu irmão, chorei, muito de alegria mas principalmente de orgulho. Aquele orgulho que nos deixa com pele de galinha, como quando Derlei empurrou a bola naquele fim de tarde em Sevilha, ou quando Juary apareceu como um foguete a finalizar outra obra-prima de Madjer. Aquele orgulho imenso, enorme, incrível, que sentimos quando se ouve a voz imcomparável da Maria Amélia Canossa antes de cada jogo, levando-nos a segurar os cachecóis ao alto até os músculos dos braços começarem a ceder. Aquela certeza de que somos o que somos, somos como somos, e para sempre assim seremos, porque somos portistas. Porque somos Porto. Porque sabemos o que é ser Porto.

Após o golo, veio o estouro fisico, como seria de prever. Jogar contra os Gil Vicentes e Moreirenses desta vida durante 2/3 da época tem as suas desvantagens. É que jogos assim, tem o Bayern aos montes durante uma temporada, e talvez por isso não tenha estranhado que alguns dos nossos rapazes tivessem festejado o 3º golo deitados no relvado, ou agarrados aos joelhos, porque já pouco oxigénio havia a chegar aos músculos por essa altura. 

Até final, para além de ir refrescando quem já não aguentava mais (menos Herrera que, segundo o meu irmão, leva uma mochila com um pulmão suplente para dentro de campo), foi tempo de cerrar fileiras, tapar caminhos, dobrar a língua, e ver a nossa versão "muro intransponível" ser posta em prática. Incrível a forma como a equipa se uniu nesta fase do jogo. Incrível também a maneira tranquila como o Bayern vai tentando "asfixiar" aos poucos quando consegue estacionar no meio-campo adversário (como aconteceu nos últimos 10 minutos), como se o jogo estivesse empatado e tudo estivesse controlado. 

Hoje, como podem compreender, não há notas para ninguém, porque seria ridículo querer destacar uns em detrimento de outros. Falarei apenas dum jogador que praticamente não vi a figurar nos destaques de outras "casas": Alex Sandro. Para mim, fez o melhor jogo com a nossa camisola vestida, e foi um elemento duma enorme preponderância em praticamente todos os momentos do jogo, especialmente quando a quebra física foi mais notória. Alex Sandro foi, durante 90 minutos, um dos melhores laterais esquerdos da Europa. E aquela assistência para Jackson... Bra-fucking-vo!

Não resisto a destacar também Lopetegui, o grande obreiro desta noite de sonho. Preparou o jogo de forma sublime, jogando com as ausências do lado dos alemães (concerteza que os jogadores que ficaram de fora lhes fazem falta, deixemo-nos de merdas), procurando montar uma teia de pressão ofensiva sobre as linhas de passe, deixando o início de construção para um lento, trapalhão e perfeitamente mediano Dante (só ultrapassado em mediania pelo seu compatriota do cabelinho loiro e encaracolado do PSG). Depois, na 2ª parte, percebendo que Xabi Alonso e Lahm (principalmente estes dois), não transpiravam robustez fisica para aguentar grandes correrias, lançou um ataque impiedoso em termos de pressão colectiva, de organização e cobertura de espaços, que deixou por várias vezes os bávaros a passar bolas... para fora! Muito bem também na gestão física dos últimos minutos, onde foi segurando as pontas até ao limite. Se no final desta época não houver nenhum título a figurar nas nossas vitrines, acreditem, não será por falta de trabalho, de capacidade de leitura táctica, por falta de exigência do nosso treinador. Foi, seguramente, a melhor contratação do F.C.Porto para esta época.

Falta um jogo, é certo. Falta ir ao covil da besta alemã. Falta um combate de 90 minutos, uma batalha na qual só estamos porque, foda-se, somos mesmo bons, e trabalhamos como uns cães para lá estar. Faltam 5400 segundos de unhas roídas, de muito suor, muita fé, muita luta, muito sofrimento. E a verdade, é que nos encontramos em vantagem. Assumamos isso: estamos em vantagem. E se fomos capazes duma exibição como a de 4ª feira... porquê ter vergonha em acreditar?

15 de Abril de 2015: Perfeito!


7 comentários:

  1. Caro Z.
    Sem palavras… o seu texto espelha bem o que senti, do sofá de minha casa… foi um jogo fantástico, uma vitória incrível e inesquecível, de um grupo unido, guerreiro, solidário, competente, ambicioso e eficaz, de uma equipa à porto.
    Aconteça o que acontecer no jogo da próxima terça, nada nem ninguém apagará do livro de honra das memórias portistas a vitória de Quarta. Nada nem ninguém apagará da história o dia em que uma equipa portuguesa, pela segunda vez, venceu os alemães que nunca tinham perdido em Portugal. Tal como em Viena, o FC Porto vergou os Alemães e obrigou-os a ter respeito por uma equipa portuguesa que todos queriam defrontar nesta fase da prova.
    E aconteça o que acontecer, todos nós temos de agradecer ao Mister Lopetegui por ter conseguido unir este grupo que nem bilhete tinha para a Liga dos Campeões e que agora está em vantagem nos quartos de final. E, pois claro, aos 14 jogadores portistas que pisaram o relvado do Dragão na passada Quarta, porque eles fazem manter o sonho vivo.

    Cumprimentos

    Ana Andrade

    www.portistaacemporcento.blogspot.com


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    1. Ana,

      Muito obrigado pela visita e pelo comentário. Quando dizia que o Quaresma pretendia tomar nos seus braços todas as almas que com ele explodiam de alegria, acredite que era quem estava a seguir o jogo a distância que mais o merecia. Porque, para mim, um portista que se mantém fiel mesmo com um Oceano pelo meio merece tudo!

      Cumprimentos!

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  2. @ Z

    crónica perfeita, de um jogo (praticamente) perfeito, de um clube que (não) é (totalmente) perfeito (mas que o tenta ser), construído por homens (quase) perfeitos, com adeptos (nem sempre) perfeitos.

    abr@ço forte
    (e 'obrigado!' pelo acrescento na 'posta' anterior :D )
    Miguel | Tomo III

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    1. Perfeitamente de acordo!

      (E nem uma palavra sobre o Rio Ave-Porto, porque nem eu nem o v.a.s.c.o. possuímos ida própria nesta altura...)

      Um abraço e obrigado pela visita!

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  3. Vamos lá carailhe!

    Terça até os comemos! Como é? Amanhã pré/pós-match?

    Abraço

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  4. É que nem sequer vou conseguir ver o jogo... Infelizmente... Podias era ter dito que ias na 4a, que eu encontrava-me contigo no fim. Tinhas conhecido o meu irmão e... desconfio que nunca mais me ias ver como um "gigante"...

    Abraço (na 3a, não sei se os comemos ou não, mas ... É uma fezada que vai cá dentro...)

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  5. Crónica apaixonante, como todas devem ser quando se fala do nosso clube.

    Saudações Portistas.

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