sábado, 21 de março de 2015

Crescimento Sustentado


Se algum portista afimar que em Março de 2014 acreditava que 365 dias volvidos seria possível ver futebol do quilate que tem sido praticado pela nossa equipa, eu digo já que não acredito. Não acredito. Não acredito mesmo.

Há um ano atrás (mais mês, menos mês) a nossa equipa implodia, sob o comando dum débil, limitado, desacreditado e derrotado Paulo Fonseca. As pernas de cada jogador pesavam chumbo, e cada jogo era um forte teste à capacidade de resiliência do mais emperdenidamente optimista adepto. O talento estava ali, pese embora em doses menos generosas do que neste ano, mas o espírito, a garra, a luta, a crença, estavam bem longe. Uma equipa em pedaços, estilhaçada por um deficiente planeamento da época, humilhada em casa e fora com uma frequência nada habitual para os nossos pergaminhos. Consideremos a época passada uma espécie de annus horribilis.

Era mesmo necessário que houvesse uma "limpeza". O presidente antecipou-o. O povo por ela clamou, em uníssono! "Cabeças terão de rolar!!!".

De novo, provou-se que as coisas têm de ser feitas de forma pensada (independentemente do resultado final).

Julen Lopetegui terá sido uma escolha arriscada, argumento que me parece perfeitamente aceitável. Para quem acreditar que os treinadores são escolhidos como no Football Manager, acredito que possa ter parecido estranho apostar num perfeito desconhecido do público. Mas as coisas não funcionam desse modo. Há um trabalho de base que acredito que seja sempre feito, seja na escolha de um jogador ou dum treinador, dependendo o sucesso da "contratação" de variadíssimos factores que penso que todos conseguem compreender.

Não será do conhecimento de muitos, mas Lopetegui ja "mora" no Dragão desde Janeiro de 2014, quando ainda ninguem tinha ouvido sequer falar desse nome. Foi aí que a construção desta "revolução" começou a conquistar pontos. Nesse momento, com tempo e serenidade, foi possivel começar a preparar a tal "revolução" do plantel, equipa técnica e, quem sabe, a provável futura mudança na forma de preparar/gerir o futebol nos próximos anos.

A vida do treinador basco tem sido, como já se previa, tudo menos fácil. Alguns adeptos não "perdoam" absolutamente nada, e vivem na expectativa de ver este tipo de  projecto falhar, para poderem ser os primeiros a dizer "Eu bem avisei!", Recordo, com carinho, o comentário que ouvi vindo da boca dum adepto portista, enquanto caminhava para casa após o jogo de apresentação aos sócios, no longínquo mês de Julho "Com esta defesa subida, isto vai ser uma tragédia...". Após 8 jogos consecutivos com apenas 1 golo sofrido, terá este adepto a mesma visão?

Com um plantel quase totalmente renovado - com 14 caras novas - e tanta juventude misturada, alguém ousou sequer pensar que por esta altura, para além de estarmos com o 1º lugar ali à distância dum deslize, estaríamos nos 1/4 de final da Champions, convivendo com equipas como Bayern, Barcelona ou Real Madrid?

Foram cometidos erros no decorrer desta época? Obviamente que sim, como sempre acontece. Nem mesmo o melhor plantel do Mundo, treinado pelo melhor técnico do Mundo, num dos melhores campeonatos do Mundo - e um dos clubes mais ricos do Mundo - como o Bayern, se livra de apanhar 4-1 do Wolfsburgo... Por isso, sim, foram cometidos erros que nos fragilizaram em determinada altura. A eliminação da Taça de Portugal em casa, pelo Sporting, foi um dos poucos momentos da actual temporada que me fizeram duvidar da real capacidade de Julen Lopetegui (e dos jogadores) de conseguir dar a volta por cima - mais pela pressão e contestação, que aí atingiram um ponto nada recomendável, do que pela margem de crescimento que sempre lhes reconheci. Também não esqueço os empates, em casa com Boavista e fora com o Estoril, que nasceram mais devido às "dúvidas" que nesse momento a equipa apresentava face ao processo/modelo de jogo, e de erros individuais que resultavam dessas mesmas dúvidas, do que pela qualidade dos adversários.

Voltando ao título do post, reflicta-se sobre a melhor forma de, em tudo na vida, construir um "projecto". A meu ver, e penso que muitos partilharão dessa opinião, é sempre preferível que uma "empreitada" como a que o F.C.Porto decidiu projectar para os próximos anos requer seja construida sobre alicerces bem fortes. E penso que tal foi conseguido, independentemente do que possa acontecer até ao final da época. Tudo foi planeado com tempo, serenidade, grande parte dos jogadores que a nós se juntaram elevaram a qualidade do plantel e o próprio Lopetegui, goste-se ou não, conseguiu aos poucos implementar um estilo de jogo muito personalizado, fazendo com que o F.C.Porto possa assumir as despesas do jogo em qualquer lado onde vá. Um F.C.Porto mandão e personalizado. Um F.C.Porto guerreiro e resiliente. Não era isto mesmo que se pretendia?

Analise-se, por exemplo, o jogo da 1ª volta com Boavista e este jogo com o Arouca, e penso que aí estará uma boa "fotografia" que explica o que quero dizer. Jogos com circuntâncias semelhantes, em que passámos cerca de 3/4 do jogo a jogar com menos um jogador, poucos dias após uma excelente vitória europeia. Se na 1ª volta houve pouco discernimento, muito coração e pouca cabeça, se houve uma equipa em campo que sabia o que queria (a vitória), sem saber muito bem como chegar lá (modelo/princípios de jogo), superando as contrariedades (estar com menos 1 jogador) - e incluo treinador e jogadores nestes pontos - vimos agora uma equipa com muito maior arcaboiço físico e táctico, confiante nas suas capacidades, solidária e compacta, que teve o jogo sempre controlado, apesar da boa réplica do adversário. Vimos jogadores que foram "vítimas" da propalada rotatividade (e que jeitão nos tem dado ter tido todas as peças a ser utilizadas em jogos a doer) a jogar como se sempre ali tivessem estado. Uma equipa que, após conquistar uma preciosa vantagem soube sofrer, defender, gerir o jogo, apesar da inferioridade numérica e da enorme fadiga acumulada em alguns pares de pernas. Isto tudo, sem Danilo e Jackson, dois dos melhores jogadores do campeonato português (e, já agora, da Europa, neste momento).

Pegue-se em qualquer jogo da primeira fase desta temporada e compare-se com qualquer jogo a seguir à derrota na Madeira, e faça-se uma análise séria. Analise-se colectiva ou individualmente o comportamento da equipa. As diferenças são tão óbvias, tão claras, tão grandes, que é necessário cumprimentar Lopetegui pelo que tem conseguido fazer com o F.C.Porto. Nota-se trabalho, nota-se evolução (individual e colectiva), nota-se uma melhoria gritante.

Um ano após o nosso futebol passou de medíocre a futebol do mais alto quilate.

Tem sido um ano de crescimento sustentado. Estão lançados os fortes alicerces para o nosso futuro a médio prazo. Porque nestes projectos, que se querem duradouros e sólidos, a firmeza da passada será sempre mais importante do que a sua dimensão ou a velocidade a que caminhamos.

Para mim, um projecto e um modelo que merecem um forte aplauso.... De pé!

Nota: este texto foi escrito antes da nossa deslocação a Braga, e só por impeditivos tecnológicos não foi publicado nessa altura. Defendo todas as ideias deste artigo, mesmo que no final da época não haja qualquer troféu para acrescentar ao nosso Museu.

6 comentários:

  1. o blogue podia era ser um pouco mais solidario com os outros blogues e meter ai uns linkezitos de lado

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    1. Verdade sim senhor! Situação já falada, preparada e que só carece de execução. Obrigado pela visita e pela "dica".

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    2. ta fixe, assim quando ler aqui posso continuar o meu tour pelos outros :)

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  2. Meu caro Z, subscrevo e sublinho!

    Acrescento só que acho que em qualquer campeonato desta praça europeia é normal perder. Anormal é pensar-se que empates são vistos como derrotas. E isso é absurdo. O jogo com o Boavista foi o dilúvio que foi e o do Estoril... foi um outro roubo de dois penalties consecutivos, não esquecer.

    Quanto ao jogo da Taça.. notou-se muito azar do agora nosso pilar Marcano e mais ainda uma poupança para o jogo essencial em San Mamés.

    Temos uma equipa e uma ideia para muitos anos, e isso é o que me agrada mais.

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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  3. olha: uma barra lateral/lista de blogues :D
    (muito obrigado! pela gentil referência ao estaminé! :D)

    abr@ços a «ambos os dois» :D
    Miguel | Tomo III

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    1. Claro que o teu espaço tinha que figurar ali na barrinha!!

      Abraço!

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