quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Cultura de Exigência

Até hoje, apenas por uma vez saí de um Estádio de futebol antes do jogo terminar. Foi no F.C.Porto vs Benfica, da época 05/06. Confesso que não consegui aguentar aqueles dois golos do Nuno Gomes, e ver aquela festa na "nossa casa" foi uma prova demasiado dura de passar. Enquanto caminhava para casa, cabisbaixo e derrotado, analisei mentalmente todo o cenário em questão e percebi o meu erro (que não voltei a cometer). 

Perder faz parte do vocabulário de qualquer desporto, com maior ou menor frequência, com maior ou menor retumbância, com maior ou menor justiça. O facto de ser um doente apaixonado do F.C.Porto, e de ter nascido numa era bem colorida e vitoriosa não me tornou imune às derrotas. Cresci a ver os nossos rivais a tombar com alguma naturalidade na nossa casa, e a tremer quando nos recebiam. Cresci a ver o meu Porto a dar respostas categóricas em campo às campanhas miseráveis extra-futebol que sempre tentaram "diminuir" ou "justificar" os nossos sucessos. Mas houve alguns sapos difíceis de engolir. Houve derrotas humilhantes, outras injustas, outras bem merecidas. Houve Taças perdidas, campeonatos deitados ao lixo, épocas catastróficas. Foram muito menos do que as vitórias e os sucessos? Sem dúvida! Mas aconteceram e todas fazem parte da minha história de amor com este clube. 


E foi aqui que percebi que errei naquela noite, ao abandonar o Dragão mais cedo. Abandonei todos os meus irmãos portistas, que tiveram a honra de ficar até ao fim e aguentar de cabeça erguida aquele murro no estômago. Abandonei a minha equipa, que de uma ou doutra forma teve de degladiar-se até ao apito final, com menos um jogador, contra o maior rival, que fazia a festa (merecida). Mas também falhei com os meus rivais, que se tivessem decidido abandonar a sua equipa de cada vez que se sentiram humilhados por nós, provavelmente já não teriam massa adepta. Falhei com o maior portista que já conheci, o meu avô, que aguentou e cultivou todo o seu portismo durante anos e anos a fio, em que ser portista era uma prova ímpar de carácter e de dignidade, e que nunca virou costas ao seu clube. Cometi esse erro uma vez, e jurei nunca mais o cometer. Aguentei até ao fim no Bessa, sozinho em Braga numa 2ª feira no meio dos adeptos da casa, mas também no livre do Rodrigo Tello, nas derrotas com Torreense e Atlético, no golo do Ronaldo, o do Estoril, ou naqueles 0-4 com o Nacional. Não ganho qualquer tipo de superioridade moral sobre ninguém, mas dá-me o traquejo suficiente para perceber que a de Sábado foi uma derrota, retumbante, categórica, mas que no dia seguinte passou, assim como uma vitória retumbante deixa de importar no dia a seguir.

Não tendo podido ver o jogo de Domingo no Dragão, mais do que perder contra um rival da forma categórica que perdemos, ou dos equívocos de Lopetegui, que pela primeira vez me deixou perto dum ataque de nervos (e bastante preocupado com alguns sinais), custou-me ver a forma simples como grande parte nossa massa adepta virou costas à equipa, à instituição e aos restantes adeptos e associados. Deixarmos ouvir "olés" na nossa casa, deixarmos ouvir um "Pinto da Costa, vai para o c***" e repondermos com um silêncio sepulcral, ou com o abandono em massa dos "postos de combate" é algo que me envergonha milhares de vezes mais do que a derrota em si. "Temos uma cultura de vitória e de exigência", dizem os mais revoltados. Não senhor, temos uma cultura de gostar de ganhar e não de gostar do Porto. Se uma parte da nossa cultura de vitória sempre passou por ter equipas capazes de fazer da nossa casa uma fortaleza inquebrável, também nós - adeptos - sempre tivemos um papel fulcral nesse capítulo. Também nós - adeptos - somos hoje uma caricatura dos bons velhos tempos do tribunal das Antas. 

Preparei esta crónica para antes do jogo de ontem, contra o Athletic. Continuando na mesma temática, foi uma lição de amor ao clube que os bascos nos deram ontem. Em 17º lugar na Liga e último lugar do grupo da Champions, consguiram contar o número de camisolas vermelhas e brancas nas bancadas? Ouviram assobios quando sofreram os golos? Ouviram assobios ao treinador? Ouviram assobios a substituições? Não, porque um adepto do Athletic, é isso mesmo, um orgulhoso adepto do Athletic.


O comportamento dos adeptos do F.C.Porto (e não são assim tão poucos como querem fazer crer) tem sido absolutamente vergonhoso, principalmente nos jogos em casa. Há quem compre lugares anuais, única e simplesmente para destruir treinador, jogadores, direcção, a cada momento que pode. Que é algo que me fascina, admito! Eu gosto de futebol, por isso sempre que posso vejo Bayerns, Dortmunds, Barças, Madrids, Liga Inglesa em geral... Mas amo o Porto, e o meu orgulho no clube não é diferente numa derrota em casa por 0-4 ou numa final da Champions. Se o meu Porto ganhar a jogar bem, ótpimo! Se ganhar a jogar mal, fantástico! Se perder, que se levante rápido para outra vitória! Se possivel, gosto de ver bom futebol, mas o mais curioso é que o ambiente, os restantes adeptos, a afluência, são os factores que mais constribuem para gostar de ir ao Estádio. Saber que estou naquele sítio mágico, que devia respirar orgulho azul e branco por todos os poros.  Na nossa casa, temos de ser TODOS a mandar. E se os jogadores não conseguem (efectivamente, não vão conseguir sempre), é dever dos adeptos tornar aquele Estádio num Inferno... para os adversários.


Termino com o exemplo que mais me deixou arruinado no Sábado passado: Adrián Lopez. O jogador foi caro? Foi. Tem feito bons jogos? Longe disso. Tem culpa do dinheiro que pagámos por ele? Nenhuma! Então que caralho de estupidez foi aquela monumental assobiadela quando o rapaz saiu do terreno de jogo? Que condições psicológicas terá o homem para jogar nos próximos tempos? De cada vez que fizer uma movimentação, um passe, vai estar com receio da própria sombra...

O grosso da nossa massa adepta mais não é do que uma cambada de imbecis, mimados, que não merece o clube que foi construído ao longo de tantos anos, com tanto sangue, suor e lágrimas. Desde que o Porto se mantenha como clube, vai ter sempre um amor incondicional da minha parte (e da parte de alguns outros), que são e serão sempre portistas indefectíveis, na Champions ou na 2ª divisão e que lá estarão, no Dragão ou fora, a dar toda a força aos nossos guerreiros - o Danilo, Maicon, Herrera, Quaresma ou Adrián - para que possam "voar".


6 comentários:

  1. Caríssimo Z,

    Não terás lido os meus comentários noutros blogs mas sabe que escrevi exactamente o mesmo sobre o Adrián. O rapaz, já se nota pela postura e pela forma como mantém a cara no chão, não tem a melhor auto-estima. Ele tem ZERO responsabilidade no valor por ele pago - eu acho que não foi pago.

    Falcao, Hulk, Fernando, Guarin - todos eles tiveram períodos de adaptação. a todos eles foi permitido ganhar confiança. Como a, já agora, Vincent Aboubakar.

    Aqui entra aquilo que eu chamo o trauma de Tordesilhas. Adrián está a ser tratado assim por ter custado (?) 11 M, mas principalmente, por ser espanhol. Era suposto um jogador de 11M ser uma máquina feita?

    Já agora quantos golos de baliza aberta falhou Jackson ontem? 4!

    O problema da fúria é o espanhol. É trazer espanhóis. É "não aproveitar a formação". Qual? A que vai em 14º? ESSA formação? Temos a "armada espanhola".

    Pois bem, eu acho que Marcano e Reyes estão num melhor momento de forma que Maicon, acho o Óliver um extraordinário jogador, acho o Tello absolutamente imprescindível. Tello vem aumentando a forma de dia para dia, e quando acertar com os companheiros - mera questão de tempo - será demolidor.

    Já agora, Adrián teve 7 desmarcações no jogo da Taça e dois fora de jogo inexistentes. Tem uma velocidade espantosa e uma acutilância de passe absolutamente brilhante. Eu sou um bom apostador, para o ano vou estar a rir-me de muito boa gente por causa do Adrián.

    E por falar em formação, não haveria Rúben sem Lopetegui. NENHUM outro treinador daria 5 minutos a um puto de 17 anos, muito menos sobre a pressão dos assobios.

    E foi tão triste ver o Casemiro, que veio de uma lesão lixada e fez uma boa primeira parte, bater palmas a sair ao público e ver a cara dele desvanecer quando percebe que estava a ser brutalmente assobiado!

    Vamos ver quanto tempo aguenta o Quaresma sem fazer merda!

    Mas, lá está, aqui entra a verdade.

    Lopetegui está a cagar-se nos assobios. O NGP também. Tem um projecto, uma ideia, confiança e segurança para pô-la em prática. Sabes, meu caro amigo, eu já percebi o jogo da taça ontem.

    O R&C mostra prejuízo com a ruína Fonsequeira. Portanto Lopetegui sabe o que tem de fazer este ano, o que é fundamental e imperativo - chegar bem longe na Champions League. Fazer boas vendas no fim do próximo ano. Realizar capital. Com Brahimi, com Quintero, com Herrera, por muito mal amado que pareça aqui, é um herói mexicano. Com Jackson, que já tem a venda feita. Essa é a realidade. Lopetegui não precisa que o defendam - sabe que não vai prá rua. Sabe que tem tempo para fazer boa formação, para cultivar o Octávio, o Campaña.

    Quer ganhar o campeonato, mas TEM de passar para os oitavos da champions.

    Era melhor não ter perdido com o zbordem. Mas ninguém morreu.

    Das três equipas Portuguesas, só uma chegará lá - nós.

    Um abraço e obrigado pelo Portismo!

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    1. Caro Jorge,

      Em perfeita sintonia com tudo o que escreveste.

      Um abraço

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  2. seria redundante acrescentar algo mais a tão brilhante prosa e a um tão pertinente comentário.

    somos Porto!, car@go!
    «este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

    abr@ços a «ambos os dois» :D
    Miguel | Tomo II

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    1. Caro Miguel,

      "Fico meio sem jeito, né?".
      Obrigado (e muito honrado pelo link que deixaste no teu espaço de tertúlia).

      P.S.: Fui ao teu espaço e tentei deixar um comentário, mas o telemóvel não me ajudou na tarefa... Espero que tenha lá ficado!

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    2. ficou sim sr. :D

      estou a par das dificuldades de inserção de comentários via 'android's' e afins.
      "it's a bug in the system" que considero que será resolúvel mais rápido do que a "exterminação" dos assobios :D

      abr@ço
      Miguel | Tomo II

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  3. Caro Z.
    Não posso estar mais de acordo com o que escreveu neste seu post… e por isso nada mais há a acrescentar.

    Cumprimentos

    Ana Andrade

    www.portistaacemporcento.blogspot.com

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