domingo, 21 de setembro de 2014

Dia de Derby!

Antes de começar esta publicação, deixem-me partilhar convosco que, durante 8 anos, defendi as cores axadrezadas do nosso vizinho do Bessa, no desporto que pratico. Para além disso, o meu pai foi capitão de equipa do Boavista durante um grande período de tempo, na mesma modalidade. Gostei muito de todas as pessoas que comigo se cruzaram naquele clube. Do clube, não gosto. Não esqueço a quantidade de vezes que, enquanto treinávamos no pavilhão, explodiam selvaticamente com os golos marcados pelos adversários (internacionais e nacionais) do F.C.Porto em dias de jogo. Não esqueço o olhar gozão e maldoso que nos lançavam quando percebiam que éramos portistas e que ousávamos vestir a camisola axadrezada. Não esqueço que, sendo um clube da cidade, a grande maioria dos boavisteiros que pude conhecer era anti-Porto antes de ser do Boavista. E essa grande maioria tinha coração vermelho ou verde antes de usar cachecol preto e branco. Não esqueço a forma rasteira como Jaime Pacheco e João Loureiro trataram o nosso clube quando estavam "por cima". Não esqueço o modo animalesco como fomos tantas vezes recebidos no Estádio do Bessa. Entenda-se, portanto, que a minha simpatia para com o Boavista (clube) é quase inexistente.

Mas há algo que, para mim, define o prazer de ser doente por futebol e o distingue como deporto-rei : as rivalidades. Meus amigos, não haja dúvidas que é esse factor que nos faz levitar, roer unhas, tratar mal os familiares próximos e o cão em dias de jogo grande (derby ou clássico). Se não fosse pelos Benficas, Sportings, Guimarães, Bragas ou Boavistas, que piada tinha isto? Aquela tensão electrizante, aquele faiscar nos olhos dos adeptos quando festejam o golo na cara dos rivais, as jogadas "durinhas", os casos de jogo, as declarações incendiárias, os cânticos provocadores, tudo isto dá corpo à adrenalina que alimenta as disputas dos nossos campeonatos, nos intervalos dos jogos contra Rios Aves, Gil Vicentes ou Olhanenses (importantes, óbvio, mas sem causar síncopes cardíacas). 

O derby portuense que amanhã vamos rever e reviver é bem-vindo e só peca por tardio. Não morro de simpatias pelos de xadrez, sei perfeitamente o que por lá se diz e se pinta do nosso F.C.Porto mas, não tenho dúvidas de que foram vítimas de uma perseguição e castigo sem precedentes que surgiu duma forma estranha por uns supostos "defensores da verdade desportiva" que, infelizmente, têm tido sucessivamente e de forma quase doentia dois pesos e duas medidas no que respeita ao tratamento dos clubes da capital e dos clubes do Norte. Aconteceu-lhes, no fundo, o mesmo que a nós, numa escala um pouco diferente. Enquanto não ganhavam nada a não ser uma Taça ou uma Supertaça aqui e ali, eram um clube simpático daqui do Norte, com umas camisolas engraçadas e tudo. A partir do momento em que pareceu que estavam a ganhar força, não tardou a que aparecessem os inimigos e os dedos acusatórios. O facto de terem um idiota chapado como presidente (o eterno João Loureiro) decerto ajudou a acelerar o processo de "assassinato" desportivo e financeiro. Foi injusto! Estão onde merecem estar.



 Sendo assim, é um prazer ver de novo um Derby da Cidade Invicta. 

Carregado de estórias e de História, este é um jogo do qual guardo inúmeras recordações, quer como visitante, quer como visitado. Não esqueço aquele impensável e electrizante 3-4 no Bessa na época do Penta, com golo do Mielckarski, a 2 minutos do fim, numa jogada à Brahimi. Na 2ª volta o jogo nas Antas foi o do título, e os nossos vizinhos resistiram com 10 jogadores até ao final. 3-2 foi o resultado e Timofte, de preto e branco, marcou um golo absolutamente inacreditável, aplaudido de pé pela nossa massa associativa, que não esquece jogadores como o romeno. Ou aquela Supertaça que os malandros nos vieram roubar às Antas (na altura jogava-se a duas mãos), mesmo com a nossa vitória por 1-0. E tantos jogadores... Ayew, Jimmy Hasselbaink, Nuno Gomes, Erwin Sanchez, Alfredo, Tavares, Nelo, Martelinho, Litos, Mário Silva, William, Pedro Emanuel, Bobó, Artur... 

Foi também um jogo com o Boavista que marcou a minha estreia a ver jogos junto da claque (coisa que poucas vezes se repetiu nos jogos em casa). Foi no Bessa que vi o meu Porto pela primeira vez fora de portas. Foi naquele jogo de sofrimento, em 2003/2004 no Bessa, com o Deco a ver 2º amarelo depois de dominar a bola sem chuteira e golo de Alenitchev quase no final.




Foram muitos jogos, grande parte deles extremamente renhidos, tanto em casa como fora de portas, que sempre tornaram os axadrezados em adversários de respeito, lutadores e extremamente caceteiros, dispostos a correr o triplo e a jogar o quádruplo do que podiam e sabiam para tentar lixar-nos a vida. Foram os jogos que, apesar de tudo, fizeram os diferentes campeonatos valer a pena. 

Obviamente que os tempos são outros e, provavelmente, o derby de amanhã não terá o mesmo "picante" de outros tempos. A pantera está ainda muito frágil e terá sérias dificuldades em manter-se na nossa divisão, pelo menos se os recursos humanos e financeiros se mantiverem escassos como até agora. Não será um derby como tantos dos anteriores. Não terá a mesma carga dramática pré-jogo. Mas assim que o árbitro apitar, vão de novo estar as camisolas mais bonitas do Mundo a jogar contra as mais esquisitas do Mundo. 

Para amanhã, não espero facilidades da parte da malta que veste de xadrez, mas espero sinceramente que o F.C.Porto faça uma exibição e resultado que espelhe bem a diferença astronómica de qualidade que efectivamente existe entre as duas equipas. E que no fim a meia dúzia de "boavisteiros verdadeiros" e os milhares que vão equipados de preto e branco, mas de coração pintado de vermelho ou verde, saiam do Dragão com a certeza absoluta de que mais valia terem ficado em casa.

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