Brasil - Chile
A única conclusão a que se pode chegar é que Scolari é, de facto, um treinador bafejado pela sorte. Podemos ver este jogo apenas pela parte estatística, e concluímos que os dados de posse de bola, remates, ataques, cruzamentos, são favoráveis ao Brasil. A verdade é que com uma equipa super-organizada, a encurtar o espaço entre linhas, o Chile foi impedindo que a bola chegasse com qualidade a Óscar - para mim, o único jogador capaz de criar desequilíbrios numa zona mais central do terreno. Ora, com Óscar longe da área, Hulk "preso" em espaços curtos e Neymar a remar contra o mundo (Fred e Jô apenas estiveram a fazer figura de corpo presente), o ataque do Brasil foi sempre muito coração e pouca cabeça. Os chilenos procuravam depois sair rápido, com vários jogadores, sempre com perfeita noção da ocupação dos espaços, e a explorar muito bem o seu flanco direito (explorando o imenso espaço deixado por Marcelo). Um golo de bola parada para os brasileiros; um golo resultante de um erro na saída em posse para os chilenos. 120 minutos de muito equilíbrio que podiam (e mereciam) ter terminado com um golaço de Pinilla (lembram-se?), mas que o travessão da baliza de um indefeso Júlio César impediu. Depois, nos penalties, sorte para os brasileiros, tendo em conta que o último chileno enviou a bola à parte de dentro do poste. Sampaoli, treinador do Chile, é muito bom, não só na forma como monta a equipa, como na assertividade com que "mexe" nas peças durante o jogo. Mas nem tudo são críticas para os brasileiros: mais alguém conseguiria lidar com a pressão que pesa sobre os ombros de muitos daqueles rapazes, neste momento?
Holanda-México
Frente a frente, uma das sensações da prova e uma equipa que parece ter sempre potencial para mais, mas que tem sérias dificuldades (historicamente) em ultrapassar fases a eliminar. A 1ª parte foi dominada pelo México. A Holanda pareceu demasiado lenta na transição ofensiva, e isso levou a inúmeras perdas de bola em zonas perigosas. Os mexicanos foram aproveitando para lançar ataques venenosos, conduzidos por um menos brilhante Herrera (ainda assim, voltou a exibir-se em bom plano) e Guardado, Peralta e Giovani dos Santos sempre a mil à hora. Ao intervalo, um 0-0 que penalizava em demasia a selecção mexicana. Na 2ª parte, Van Gaal demonstrou uma vez mais que é um monstruoso treinador. Depois de alterar a constituição da equipa por força da saída de De Jong por lesão, lançou Indi que descaía sobre a esquerda, compensando com um posicionamento mais interior de Blind. Com Robben e Van Persie soltos na frente, o posicionamento de Indi retirou profundidade ao flanco, mas a presença de Blind como interior, obrigou o meio campo mexicano a abrir um pouco mais de espaço, com Sneijder a ter mais bola em zonas onde pode fazer a diferença, contando com um endiabrado Robben a jogar em constantes diagonais (com e sem bola). E na altura crucial do jogo (logo ali na paragem dada por Proença para os jogadores se refrescarem), teve a audácia e coragem de tirar um desgastado Van Persie (que era facilmente marcado pelos centrais mexicanos), e colocar Huntelaar, fresco e com fome de golos. A partir dos 78' o México não mais conseguiu sair com critério do seu meio campo defensivo, e a velocidade, intensidade e maior frescura dos holandeses permitiu-lhes asfixiar o adversário. Os golos acabaram por surgir nos últimos suspiros do jogo mas, independentemente de se discutir decisões de arbitragem, fica o registo de um trabalho fenomenal de Van Gaal. O México também merecia, e muito, chegar mais longe, mas a fase do mata-mata não tem contemplações. Perdeu-se o mais louco e apaixonado dos treinadores (Miguel Herrera), mas nota-se ali uma geração de futebolistas com enorme qualidade. Rafa Marquez: vénia!
Quando todos pensávamos que íamos assistir a mais um jogo de uma Costa Rica a todo o gás, a explorar a magia de Bolaños e Brian Ruiz e a velocidade e intensidade de Campbell, seguros por um meio campo e defesa de betão, contra uma Grécia ultra-defensiva, sempre a espreitar o erro adversário para contra-atacar, aconteceu o exacto oposto. Foi um jogo de sentido único, desde o 1º minuto, com os gregos a assinarem a sua melhor exibição neste Mundial. Enquanto houve igualdade numérica em campo, a Grécia jogava com as linhas muito próximas, embora não demasiado subidas, fechando a porta aos criativos médios mais ofensivos e avançados costa-riquenhos. Não falha: com equipas que apostam na velocidade, retira-se o espaço, e as dificuldades aparecem. Os gregos foram sublimes a fazê-lo e, na única vez em que se desorganizaram por momentos, sofreram um golo (único remate digno desse nome da Costa Rica durante os 120'). Depois, até final, assistiu-se a uma avalanche ofensiva por parte da Grécia, com o dedo sábio de Fernando Santos por trás. Aumentou robustez do meio-campo com a entrada de Katsouranis, e tentou dar uma referência mais fixa com Mitroglou, retirando Samaras (belíssimo jogador) para zonas mais recuadas (onde pode ter mais bola, e fazer os seus movimentos interiores. A Grécia, carregada por um incrível Karagounis (37 anos... pfffff), a recuperar todas as bolas, ajudando a fechar os flancos nas milhares de subidas dos laterais (Holebas e Lazaros, dois jogadores com 5 pulmões), massacrou até ao limite, e foi premiada com o empate aos 91'. No prolongamento, mais do mesmo, sendo que os gregos ficam a dever a si próprios e a Keylor Navas não terem conseguido resolver a contenda. Pela primeira vez, vi todos os penalties serem muito bem marcados, mas Navas foi buscar um "tiro" de Gekas e deu a passagem à Costa Rica. Dos resultados mais injustos deste Mundial.
Quem poderia pensar que este jogo iria dar que falar? Belíssima partida de futebol (mais uma!), entre uma fortíssima Alemanha e uma inesgotável Argélia. Halliche como pedra basilar da defensiva argelina? Slimani como referência ofensiva, a batalhar com Mertesacker e Boateng como gente grande? Mundial de LOUCOS! Fantástica a forma como Hallihodzic montou a estratégia para este jogo. Conseguiu secar as principais referências dos alemães (Muller esteve sempre muito bem vigiado e Ozil passou quase ao lado do jogo), deixando as despesas para Lahm (médio-defensivo...) e Gotze. A questão é que esta Alemanha perde muito com o posicionamento de Lahm. Perde profundidade do lado direito, quebrando inúmeras vezes a circulação e procura de espaços. Perde também em termos físicos, na batalha defensiva. Lahm poderá ser óptimo médio no Bayern de Guardiola, que joga declaradamente em posse; nesta Alemanha TEM de ser lateral. Brahimi, do lado argelino, não se fez rogado e explorou até à exaustão o flanco direito alemão, aterrorizando Mustafi ate á sua saída por lesão. Curiosamente, na altura em que Lahm passou para a direita e Khedira (belo jogo) ocupou o lugar ao lado de um desinspirado Schweinsteiger, a Alemanha ganhou mais bola, mais velocidade de circulação e ganhou muitos mais espaços do lado direito. Os médios começaram a aparecer mais vezes em zonas de finalização e Muller conseguiu mais espaços. Foi, contudo, no prolongamento que o jogo se decidiu. Halliche lesionou-se e deixou Hallihodzic sem substituições, ficando em campo um Slimani quase a soro. A Argélia ia dependendo quase só dos rasgos de Brahimi e das defesas (muitas e muito boas) de M'Bohli. Quando Ozil, aos 120' fez o 2-0 - numa fase em que os argelinos praticamente abdicaram da defesa - todos sentiram que o jogo estava decidido. Aos 109', Schurrle tinha inaugurado o marcador com um sublime toque de calcanhar. Mas este Mundial tem sido mesmo fabuloso e o jogo não terminaria sem um merecido golo argelino, de Djabou. Um susto para a Alemanha, que teve de suar para passar, mas que mostrou argumentos colectivos para se considerar uma das maiores candidatas a chegar à final.
Bélgica - Estados Unidos
É impossível falar deste jogo sem falar de Howard. Tim "The Wall" Howard. Não sei se a alcunha deve alguma coisa à obra dos Pink Floyd, mas é certamente certeira para descrever a exibição do keeper do Everton nos oitavos de final. Bateu o recorde de defesas num só jogo (16!) e manteve os Estados Unidos em jogo em largos períodos do jogo. Uma Bélgica que tem um conjunto de jogadores fabuloso, mas que ainda procura ser uma equipa. O meio-campo parece sempre algo perdido onde Witsel e Fellaini em duplo pivot procuram encontrar as melhores orientações eles e para os colegas. Muito talento individual, pouca organização colectiva. Confesso que sou um amante dos Estados Unidos (por vários motivos) e obviamente estava a torcer por eles. Jurgen Klinsmann com parcos recursos montou uma equipa na verdadeira acepção da palavra, onde as estrelas maiores são Dempsey e Howard (uma pena ver ambos a abandonar) e claro Bradley. Passei vários momentos a gritar para a TV. Nomeadamente quando Dempsey falhou a emenda daquele que foi o melhor livre estudado a que assisti nos últimos anos (video aqui). Foi uma pena Altidore não estar nas melhores condições físicas para poder ajudar a equipa na fase mais decisiva. A segunda parte do prolongamento foi tão emotiva e viva que duvido que alguém na terra do Soccer tenha ficado indiferente... Acho que dentro de 10/15 anos os Estados Unidos poderão fazer moça a sério num Mundial. Just you wait my friends!
Suiça - Argentina
Foi só mais um jogo resolvido por Messi. "Ah, mas ó Vasco foi o Di Maria que marcou pa!" Sim, é um facto. Mas bastou ver que quando o Leo teve "meio metro" de espaço fez tudo aquilo que o torna no melhor jogador do Mundo (Yeah, I said it. Deal with it) Teve espaço, acelerou quando devia, ultrapassa o primeiro carrinho Suiço, fixa o central que restava e o lateral esquerdo e dá a bola a Di Maria para este fazer o golo. Filme já visto e revisto. Que horrível é esta Argentina. Sabella faz lembrar alguém que já faleceu faz uns dias mas ainda ninguém o avisou. Com princípios de jogo primitivos, onde existem "os que defendem" e "os que atacam" e onde a fé em Messi chega para ganhar jogos. Uma Suiça muito bem organizada por uma velha raposa como Hitzfeld soube fechar os caminhos para a baliza de Benaglio e evitar que Messi tivesse espaço para explorar. Jogo longo e aborrecido resolvido pelo "alien" Messi ao minuto 118'. Esta Argentina não convence. Nada.
Colômbia - Uruguai
França - Nigéria
Venham os Quartos!
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