domingo, 6 de julho de 2014

Bitaites Mundial 2014 - Oitavos de final

Brasil - Chile

A única conclusão a que se pode chegar é que Scolari é, de facto, um treinador bafejado pela sorte. Podemos ver este jogo apenas pela parte estatística, e concluímos que os dados de posse de bola, remates, ataques, cruzamentos, são favoráveis ao Brasil. A verdade é que com uma equipa super-organizada, a encurtar o espaço entre linhas, o Chile foi impedindo que a bola chegasse com qualidade a Óscar - para mim, o único jogador capaz de criar desequilíbrios numa zona mais central do terreno. Ora, com Óscar longe da área, Hulk "preso" em espaços curtos e Neymar a remar contra o mundo (Fred e Jô apenas estiveram a fazer figura de corpo presente), o ataque do Brasil foi sempre muito coração e pouca cabeça. Os chilenos procuravam depois sair rápido, com vários jogadores, sempre com perfeita noção da ocupação dos espaços, e a explorar muito bem o seu flanco direito (explorando o imenso espaço deixado por Marcelo). Um golo de bola parada para os brasileiros; um golo resultante de um erro na saída em posse para os chilenos. 120 minutos de muito equilíbrio que podiam (e mereciam) ter terminado com um golaço de Pinilla (lembram-se?), mas que o travessão da baliza de um indefeso Júlio César impediu. Depois, nos penalties, sorte para os brasileiros, tendo em conta que o último chileno enviou a bola à parte de dentro do poste. Sampaoli, treinador do Chile, é muito bom, não só na forma como monta a equipa, como na assertividade com que "mexe" nas peças durante o jogo. Mas nem tudo são críticas para os brasileiros: mais alguém conseguiria lidar com a pressão que pesa sobre os ombros de muitos daqueles rapazes, neste momento?

Holanda-México

Frente a frente, uma das sensações da prova e uma equipa que parece ter sempre potencial para mais, mas que tem sérias dificuldades (historicamente) em ultrapassar fases a eliminar. A 1ª parte foi dominada pelo México. A Holanda pareceu demasiado lenta na transição ofensiva, e isso levou a inúmeras perdas de bola em zonas perigosas. Os mexicanos foram aproveitando para lançar ataques venenosos, conduzidos por um menos brilhante Herrera (ainda assim, voltou a exibir-se em bom plano) e Guardado, Peralta e Giovani dos Santos sempre a mil à hora. Ao intervalo, um 0-0 que penalizava em demasia a selecção mexicana. Na 2ª parte, Van Gaal demonstrou uma vez mais que é um monstruoso treinador. Depois de alterar a constituição da equipa por força da saída de De Jong por lesão, lançou Indi que descaía sobre a esquerda, compensando com um posicionamento mais interior de Blind. Com Robben e Van Persie soltos na frente, o posicionamento de Indi retirou profundidade ao flanco, mas a presença de Blind como interior, obrigou o meio campo mexicano a abrir um pouco mais de espaço, com Sneijder a ter mais bola em zonas onde pode fazer a diferença, contando com um endiabrado Robben a jogar em constantes diagonais (com e sem bola). E na altura crucial do jogo (logo ali na paragem dada por Proença para os jogadores se refrescarem), teve a audácia e coragem de tirar um desgastado Van Persie (que era facilmente marcado pelos centrais mexicanos), e colocar Huntelaar, fresco e com fome de golos. A partir dos 78' o México não mais conseguiu sair com critério do seu meio campo defensivo, e a velocidade, intensidade e maior frescura dos holandeses permitiu-lhes asfixiar o adversário. Os golos acabaram por surgir nos últimos suspiros do jogo mas, independentemente de se discutir decisões de arbitragem, fica o registo de um trabalho fenomenal de Van Gaal. O México também merecia, e muito, chegar mais longe, mas a fase do mata-mata não tem contemplações. Perdeu-se o mais louco e apaixonado dos treinadores (Miguel Herrera), mas nota-se ali uma geração de futebolistas com enorme qualidade. Rafa Marquez: vénia!

Costa Rica - Grécia

Quando todos pensávamos que íamos assistir a mais um jogo de uma Costa Rica a todo o gás, a explorar a magia de Bolaños e Brian Ruiz e a velocidade e intensidade de Campbell, seguros por um meio campo e defesa de betão, contra uma Grécia ultra-defensiva, sempre a espreitar o erro adversário para contra-atacar, aconteceu o exacto oposto. Foi um jogo de sentido único, desde o 1º minuto, com os gregos a assinarem a sua melhor exibição neste Mundial. Enquanto houve igualdade numérica em campo, a Grécia jogava com as linhas muito próximas, embora não demasiado subidas, fechando a porta aos criativos médios mais ofensivos e avançados costa-riquenhos. Não falha: com equipas que apostam na velocidade, retira-se o espaço, e as dificuldades aparecem. Os gregos foram sublimes a fazê-lo e, na única vez em que se desorganizaram por momentos, sofreram um golo (único remate digno desse nome da Costa Rica durante os 120'). Depois, até final, assistiu-se a uma avalanche ofensiva por parte da Grécia, com o dedo sábio de Fernando Santos por trás. Aumentou robustez do meio-campo com a entrada de Katsouranis, e tentou dar uma referência mais fixa com Mitroglou, retirando Samaras (belíssimo jogador) para zonas mais recuadas (onde pode ter mais bola, e fazer os seus movimentos interiores. A Grécia, carregada por um incrível Karagounis (37 anos... pfffff), a recuperar todas as bolas, ajudando a fechar os flancos nas milhares de subidas dos laterais (Holebas e Lazaros, dois jogadores com 5 pulmões), massacrou até ao limite, e foi premiada com o empate aos 91'. No prolongamento, mais do mesmo, sendo que os gregos ficam a dever a si próprios e a Keylor Navas não terem conseguido resolver a contenda. Pela primeira vez, vi todos os penalties serem muito bem marcados, mas Navas foi buscar um "tiro" de Gekas e deu a passagem à Costa Rica. Dos resultados mais injustos deste Mundial.

Alemanha - Argélia

Quem poderia pensar que este jogo iria dar que falar? Belíssima partida de futebol (mais uma!), entre uma fortíssima Alemanha e uma inesgotável Argélia. Halliche como pedra basilar da defensiva argelina? Slimani como referência ofensiva, a batalhar com Mertesacker e Boateng como gente grande? Mundial de LOUCOS! Fantástica a forma como Hallihodzic montou a estratégia para este jogo. Conseguiu secar as principais referências dos alemães (Muller esteve sempre muito bem vigiado e Ozil passou quase ao lado do jogo), deixando as despesas para Lahm (médio-defensivo...) e Gotze. A questão é que esta Alemanha perde muito com o posicionamento de Lahm. Perde profundidade do lado direito, quebrando inúmeras vezes a circulação e procura de espaços. Perde também em termos físicos, na batalha defensiva. Lahm poderá ser óptimo médio no Bayern de Guardiola, que joga declaradamente em posse; nesta Alemanha TEM de ser lateral. Brahimi, do lado argelino, não se fez rogado e explorou até à exaustão o flanco direito alemão, aterrorizando Mustafi ate á sua saída por lesão. Curiosamente, na altura em que Lahm passou para a direita e Khedira (belo jogo) ocupou o lugar ao lado de um desinspirado Schweinsteiger, a Alemanha ganhou mais bola, mais velocidade de circulação e ganhou muitos mais espaços do lado direito. Os médios começaram a aparecer mais vezes em zonas de finalização e Muller conseguiu mais espaços. Foi, contudo, no prolongamento que o jogo se decidiu. Halliche lesionou-se e deixou Hallihodzic sem substituições, ficando em campo um Slimani quase a soro. A Argélia ia dependendo quase só dos rasgos de Brahimi e das defesas (muitas e muito boas) de M'Bohli. Quando Ozil, aos 120' fez o 2-0 - numa fase em que os argelinos praticamente abdicaram da defesa - todos sentiram que o jogo estava decidido. Aos 109', Schurrle tinha inaugurado o marcador com um sublime toque de calcanhar. Mas este Mundial tem sido mesmo fabuloso e o jogo não terminaria sem um merecido golo argelino, de Djabou. Um susto para a Alemanha, que teve de suar para passar, mas que mostrou argumentos colectivos para se considerar uma das maiores candidatas a chegar à final.

Bélgica - Estados Unidos

É impossível falar deste jogo sem falar de Howard. Tim "The Wall" Howard. Não sei se a alcunha deve alguma coisa à obra dos Pink Floyd, mas é certamente certeira para descrever a exibição do keeper do Everton nos oitavos de final. Bateu o recorde de defesas num só jogo (16!) e manteve os Estados Unidos em jogo em largos períodos do jogo. Uma Bélgica que tem um conjunto de jogadores fabuloso, mas que ainda procura ser uma equipa. O meio-campo parece sempre algo perdido onde Witsel e Fellaini em duplo pivot procuram encontrar as melhores orientações eles e para os colegas. Muito talento individual, pouca organização colectiva. Confesso que sou um amante dos Estados Unidos (por vários motivos) e obviamente estava a torcer por eles. Jurgen Klinsmann com parcos recursos montou uma equipa na verdadeira acepção da palavra, onde as estrelas maiores são Dempsey e Howard (uma pena ver ambos a abandonar) e claro Bradley. Passei vários momentos a gritar para a TV. Nomeadamente quando Dempsey falhou a emenda daquele que foi o melhor livre estudado a que assisti nos últimos anos (video aqui). Foi uma pena Altidore não estar nas melhores condições físicas para poder ajudar a equipa na fase mais decisiva. A segunda parte do prolongamento foi tão emotiva e viva que duvido que alguém na terra do Soccer tenha ficado indiferente... Acho que dentro de 10/15 anos os Estados Unidos poderão fazer moça a sério num Mundial. Just you wait my friends!

Suiça - Argentina

Foi só mais um jogo resolvido por Messi. "Ah, mas ó Vasco foi o Di Maria que marcou pa!" Sim, é um facto. Mas bastou ver que quando o Leo teve "meio metro" de espaço fez tudo aquilo que o torna no melhor jogador do Mundo (Yeah, I said it. Deal with it) Teve espaço, acelerou quando devia, ultrapassa o primeiro carrinho Suiço, fixa o central que restava e o lateral esquerdo e dá a bola a Di Maria para este fazer o golo. Filme já visto e revisto. Que horrível é esta Argentina. Sabella faz lembrar alguém que já faleceu faz uns dias mas ainda ninguém o avisou. Com princípios de jogo primitivos, onde existem "os que defendem" e "os que atacam" e onde a fé em Messi chega para ganhar jogos. Uma Suiça muito bem organizada por uma velha raposa como Hitzfeld soube fechar os caminhos para a baliza de Benaglio e evitar que Messi tivesse espaço para explorar. Jogo longo e aborrecido resolvido pelo "alien" Messi ao minuto 118'. Esta Argentina não convence. Nada.

Colômbia - Uruguai

Aiiiiiii "El Bandido"...  Mais um grande jogo do "nosso" menino. Mais um grande jogo desta Colombia. James Rodriguez está a dar o salto na qualidade exibicional que o vai tornar num dos melhores jogadores do Mundo e certamente no jogador deste Mundial. Um Uruguai com Forlan no lugar de Suarez, e sem grande brilho. Já pesam as pernas ao uruguaio e substituir Suarez não é nada fácil e Tabarez e sus muchachos sentiram isso. A Colombia liderada por um Yepes imortal, conta ainda com um Cuadrado hiperactivo e Aguillar que é um pêndulo. Mas é o menino ex-Porto quem mais brilha nos Cafeteros. Dois golos absolutamente fantásticos. O primeiro nasce de um momento só digno de predestinados, James recebe de peito e num remate de fora da área (que me deixou a gritar com para a TV como uma qualquer fã dos One Direction...) fuzila as redes de Muslera. O segundo é um hino ao futebol colectivo e de equipa. A Colombia vai agora enfrentar o anfitrião Brasil. Será a "sensação" deste Mundial suficiente para derrubar Scolari?

França - Nigéria

Mais um jogo deste Mundial e mais uma grande exibição de um guarda-redes. Keylor Navas, Claudio Bravo, Tim Howard, Ochoa, Neuer e desta vez... Enyemana. Uma actuação a roçar o perfeito. O nigeriano defendeu (quase) tudo o que lhe apareceu pela frente. Um jogo partido ou como diria Vitor Pereira "jogo de bola cá bola lá" havendo muito espaço no meio campo. Contra ataques algo lentos por parte da equipa de Deschamps, não procurando acelerar quando devia e apesar de criar oportunidades várias pareceu sempre confiar que havia tempo para ganhar o jogo. A Nigéria procurou defender acima de tudo aplicando um estilo de jogo muito físico tipicamente africano. E ironia das ironias, foi Enyemana, que errando o tempo de saida num canto dá a Pogba o 1-0. Pouco depois foi o anão  de serviço (Valbuena) que com a ajuda de Yobo faz o resultado final.


Venham os Quartos! 



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