domingo, 8 de junho de 2014

Pecados Mortais - A Saída de Lucho

Todas as equipas (de todas as modalidades) necessitam de alguém que as lidere fora (treinadores) e dentro de campo. Costuma dizer-se que há jogadores que carregam consigo características de líderança e que conseguem ser a voz de comando dentro de campo, passando aos restantes colegas diferentes mensagens que o treinador, por vezes, não consegue passar. Temos, assim, diferentes tipos de líder que podem aparecer nas equipas, consoante as suas características pessoais e conforme o que exige o contexto. Temos líderes como Jorge Costa, João Pinto, Zanetti, Puyol, Roy Keane ou Gary Neville, que nunca deixam que a mentalidade da equipa esmoreça. Que berram aos ouvidos dos colegas, se necessário for, mas que são capazes de colocar o colectivo sempre à frente dos seus egos.  São os líderes "antes quebrar que torcer", muitas vezes medianos a nível técnico, mas com uma consciência colectiva acima de qualquer outro. Por outro lado, temos os que comandam a equipa na vertente mais tecnico-táctica do jogo. Falamos aqui de Pirlo, Giggs, Xavi ou Deco, que encarnam o tipo de jogador que percebe sempre aquilo de que a equipa necessita nos diferentes momentos do jogo. São jogadores com bons pés e uma inteligência táctica acima do normal, que gerem ritmos como ninguém.


Podemos considerar Lucho Gonzalez como um líder nas duas vertentes que abordei, embora com maior notoriedade na segunda. 

Lucho foi um jogador determinante em todas as épocas em que jogou pelo F.C.Porto, quer sob a mão de Jesualdo, quer com a orientação de Vítor Pereira. Não é por acaso que conquistou títulos em todas as épocas (excepto na que terminou há semanas). Lucho sempre foi o jogador que não sabia jogar mal. Ao lado de Meireles ou Anderson, Assunção ou Fernando e Moutinho ou Defour sempre foi o mais regular dos jogadores do F.C.Porto naquele meio-campo a três. 

Lento? Dizia Vitor Pereira: "Lucho é dos jogadores mais rápidos que temos. Não há ninguém que tenha a sua velocidade de raciocínio dentro de campo". Para os que vêem o jogo sempre à espera que haja golos de pontapé de bicicleta ou a 40 metros da baliza, talvez Lucho fosse um jogador banal. Mas bastava perder um bocadinho do jogo a focar somente a figura do nº 8 ou nº 3 para perceber melhor aquilo que trazia à equipa. 

Sendo assim, foi com enorme estranheza que vi a sua saída no decurso desta época. Um líder de balneário, capitão de equipa, que regressa à casa mãe mesmo que o contrato não seja tão "volumoso" como em Marselha, sai assim, a meio de uma época tão difícil? O Lucho? O mesmo que jogou mesmo sabendo da morte do pai, que tantas vezes jogou dimiuído fisicamente e que nunca virou a cara à luta?

Correram inúmeros boatos em relação a esta saída. Diz-se que foi devido à questão financeira; ouvi também que se deveu a problemas com PF. Não vou alimentar aqui especulações, mas custa-me crer que tenha sido "normal" a saída de El Comandante, ainda por cima no "timing" em que ocorreu e para o campeonato que foi. A verdade é que deixar sair com tanta ligeireza um jogador da importância colectiva de Lucho foi um enorme tiro no pé. É certo que passou metade da época a ser utilizado de forma incorrecta pela teimosia sobranceira de PF, e que isso o levou ao desgaste total num curto período de tempo, mas Lucho precisava e merecia ficar no Porto e terminar aqui a sua carreira. Precisávamos de Lucho quando tudo entrou num declínio absoluto. Luís Castro precisava de Lucho para o ajudar a "colar os cacos" deixados pelo reinado de PF. Precisávamos de Lucho no inferno de Sevilha e na miserável noite na Luz. Precisávamos de Lucho para pegar na batuta e, jogando na sua posição mais familiar, comandar o nosso jogo. Precisávamos de Lucho para colocar algum juízo nas criancices de Quaresma. Precisávamos de Lucho quando o tendão de Aquiles de Hélton cedeu. A equipa, o treinador e, sobretudo, os adeptos, precisavam de olhar para o campo e ver Lucho para poderem acreditar. Para termos um (UM ÚNICO!) jogador que realmente seja um ídolo intemporal; aquele cujo nome todos sonhamos ter nas costas das nossas camisolas azuis e brancas.

Que tremendo erro cometemos ao deixar fugir uma das nossas raridades: alguém que joga pelo colegas e pelos adeptos; alguém que sabe o que é "Ser Porto" ainda antes de saber respirar, e sem precisar de espetar isso nos Twitters e Facebooks só para "ver se cola".

Sonho que um dia Lucho possa voltar ao F.C.Porto pela porta grande, como o grande jogador e comandante que sempre foi. E o estádio, de pé, vai cantar "Lucho, Lucho, Lucho Gonzaleeeez!".


9 comentários:

  1. Concordo em absoluto com o que o Z escreveu.

    Quando soube da saída de Lucho, juro que foi como se me tivesse morrido alguém. Obviamente, soube que morria, sim, a época. Tinha partido do Porto o maior equilibrador, o Mestre da táctica, El Comandante.

    Quando o meu jogador preferido de sempre voltou ao Porto, depois do regalo que foi vê-lo com Lizandro, veio mais maduro, mais calmo mas, logo naquele jogo em casa com o Beira-Mar, fui vê-lo, lá estava ele, hirto como sempre, com a cabeça levantada, a sua pose senhorial e as suas fabulosas assistências! Que classe! Encheu o campo!

    Lucho não é daqueles jogadores que aparecem nas câmaras constantemente. Tem de se observar no estádio. A movimentação que enche o campo. O saber controlar o tempo do jogo, a voz de comando, a serenidade com que fala aos colegas e com o banco.

    Foi isso que não vi esta época. Aquela galinha pôs o Comandante de todos nós a fazer de avançado! Desgastou-o, desorientou-o. Quantas vezes o vi de mãos na cintura a olhar para o campo sem perceber nada, com um olhar vago como que dizendo "que coño es esto?!".

    Já escrevi noutros sítios, perdi a conta das vezes que ele mandou subir o 8 "duplo pivot" , fosse ele Josué ou o pobre Herrera,ou o Carlos Eduardo, para que ele tomasse conta do SEU espaço. Logo vinha a galinha desdizê-lo. Vi El Comandante perder tempo de jogo, ir ao banco, tentar dizer à galinha como se joga futebol, o que são posições de jogo.

    Exasperante.

    Soube, depois da sua partida, muito depois, o rumor de que se teria incompatibilizado com a galinha de uma forma bastante dura, e teria posto o lugar à disposição. Vindo de um homem com a serenidade de Lucho Gonzáles quer dizer tudo.

    A direcção, incluindo o NGP, deixou sair aquele que, a par de Baía e Jorge Costa, é um dos símbolos de sempre do nosso clube. Também eu, como o Z, sonho com a maior contratação da época:

    Lucho "El Comandante" Gonzáles, a 8.

    Ele que, apesar de tudo isto, diz que quer ser o Simeone do Porto. Pelo menos - PELO MENOS - deixem-no ser o NOSSO Alex Ferguson. Acredito que com o Lucho a treinador, conseguiriamos um Hexa!

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  2. Uma adenda por favor, para dizer que responsabilizo também todos os adeptos de pacotilha, os treinadores de bancada e os Portistas de sofá pela saída d'El Comandante,

    Era velho não era? Lento? Acabado? Baroni?

    Mangala disse o óbvio - os jogadores tinham ficado desorientados sem ele.

    Calem-se de uma vez todos aqueles burros que acham que percebem mais de futebol do que um multi-titulado jogado, com o apelido de COMANDANTE!

    Calcem as chuteiras e vão para lá, a ver se fazem melhor. Vitor Pereira disse uma verdade inquestionavel no Mais Futebol: Ele duraria mais duas, três épocas. Eu diria até mais, Um jogador que aos 33 anos corria 12 kms por jogo.... jogaria a 8 até aos 40.

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    1. Viva Jorge,
      Obrigado pelo teu comentário.
      Subscrevo aquilo que dizes por aqui. Provavelmente grande parte dos adeptos que tanto o amam, são aqueles que acham que grande jogador é o Quaresma!

      Enfim...

      Venha Agosto rápido!!

      Cumprimentos

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  3. As razões da saída foram económica. A SAD tinha um dívida grande de salários, 1,5M, que não estava paga, e tinha um dos maiores senão o maior salário. Apareceram os árabes que lhe pagaram a dívida e foi-se!

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    1. Caríssimo, deixa-me agradecer-te o comentário antes de mais.
      sendo um dos salários mais altos, não sei se a vinda do Quaresma não voltou a desequilibrar a balança nesse ponto. E também me parece que, mesmo com a dívida, a SAD DEVIA ter feito TUDO o que estava ao seu alcance para manter uma das suas preciosidades - um jogador de futebol com bastante massa cinzenta.

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  4. Tens aqui um belo blog, vou acompanhar sem duvida. A cena dos tweets ta demais.
    Parabéns amigo PORTISTA.
    João Pinto

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    1. Vou deduzir que o comentário se destina ao v.a.s.c.o., mas agradeço em nome dos dois o teu testemunho. Esperamos ver-te por cá mais vezes!

      Cumprimentos

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  5. Boa tarde caros Portistas, também concordo que a saída do nosso Comandante foi a cereja no topo do bolo das asneiras que se cometeram esta época. Um grande abraço para todos os Portistas de coração.

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