domingo, 20 de abril de 2014

O Museu e a História do FCP

No merecido descanso do feriado, arranjei finalmente um tempinho para poder fazer uma visita ao nosso Museu. E fiz essa visita, exactamente do modo como pretendia - sozinho, com todo o tempo do mundo, para poder beber alguns goles de portismo e saborear cada recanto daquela que é, definitivamente, uma obra formidável do nosso presidente e um marco de que todos os portistas se podem (e devem) orgulhar.

Afinal o que é o F.C.Porto? Sucesso, vitórias, raça, querer, ambição… mas também é História! Parece que muitas vezes esse factor nos escapa. Tendo em conta as últimas décadas, a nossa ânsia de vencer mais e mais títulos fez-nos esquecer um pouco o que são as nossas raízes (principalmente para as gerações mais novas) e esquecemo-nos que aquilo que esteve na base das épocas memoráveis que temos vivido, foram tempos duros, de amor ao clube e à causa, de muito sangue, muito suor e inúmeras lágrimas.

O nosso Porto, que deu os seus primeiros tímidos passos pelas mãos de Nicolau d’Almeida, e que viu reforçada a sua continuidade pelas mãos de Monteiro da Costa, foi motivo de orgulho para as gentes portuenses, muito antes de conhecermos nomes como Gomes, Madjer, Pedroto, Pinto da Costa, Mourinho ou Deco. O desporto era diferente nesta altura, controlado pelos ingleses que por cá andavam e que nos tentavam passar alguma da sua cultura. Eram tempos quase “experimentais” e, à falta de competições oficiais, os clubes iam organizando o que podiam, como podiam, de forma a expandir os diferentes desportos. O ecletismo era valorizado acima de qualquer coisa, e era comum ver atletas a praticar diferentes modalidades ao mesmo tempo. É comum vermos o ecletismo associado a outros clubes, que o usam como a bandeira que os torna “diferentes”, mas a verdade é que temos na nossa História inúmeros exemplos de grandes atletas que se destacaram em diversas áreas.

                A partir do momento em que o desporto se começou a organizar até à subida de Jorge Nuno Pinto da Costa a nº1 da direcção do clube, os tempos foram muito complicados. Por esta altura, já havia uma clara e marcada diferença entre F.C.Porto, Sporting e Benfica e os restantes clubes, sendo que Académica e Belenenses iam aparecendo na 2ª linha do futebol nacional. O domínio dos nossos grandes rivais era notório, como notórias eram as dificuldades de ser Porto e do Porto, de cada vez que era necessário atravessar a ponte rumo à capital. Não obstante o facto de Portugal ter assistido a equipas fortíssimas, como o Sporting dos 5 Violinos e o Benfica de Coluna e Eusébio, também a Norte e de azul e branco moraram belíssimas equipas, que ombreavam (com armas desiguais, é certo), muitas vezes taco a taco, com os colossos de Lisboa. Também nós vencemos o Real Madrid de Di Stefano, ou o super Valência (campeão de Espanha na época) e até o Vasco da Gama (considerada uma equipa temível à época). Mas nada disto tinha muito interesse, visto que as eras douradas de Sporting e Benfica (que não ouso pôr em causa) sobrepunham-se a tudo o resto no panorama desportivo nacional. Eram os tempos em que faltas sobre o Eusébio perto da área davam sempre origem a penalties, em que se anulavam golos aos de azul e branco, porque sim e porque não. Eram os tempos de Inocêncios Calabotes (um dia farei um post sobre esta figura e sobre o título conquistado nessa época), de selecções nacionais constituídas unicamente por atletas lisboetas, enfim, de tudo e mais alguma coisa que ajudasse a decidir aquilo que à partida estaria decidido pela qualidade dos clubes da capital.

Este Porto, pré-Pinto da Costa (se lhe posso chamar assim), é um clube que me enche de orgulho. Era o clube “simpático” da altura, que pouco incomodava e que ganhava umas coisas de longe a longe. O clube que vivia na sombra, mas que nunca desistiu. O clube que atravessou duas longas “travessias do deserto”, mas que nunca ruiu. Um clube que soube esperar, que soube aguentar, que foi lutando e que, mesmo depois de estar pisado, ferido, conseguiu reerguer-se e chegar àquilo que hoje conhecemos.

E aqui entram duas figuras incontornáveis do nosso clube, e do desporto nacional: Pinto da Costa e José Maria Pedroto. Foi esta união entre dois homens geniais que nos trouxe para os patamares de sucesso que hoje conhecemos.

O Porto passou a ser um nome temido em Portugal e na Europa, pegando nos valores que foi construindo ao longo dos anos, juntou raça, ambição, qualidade técnica e uma sede interminável de vitórias, que nos tornaram numa máquina competitiva e de títulos. Voltei a ver ali, no Museu, aquilo que já tinha visto incontáveis vezes – o calcanhar de Madjer, as fintas estonteantes de Futre, a velocidade supersónica de Rui Barros, a magia de Deco, a força de Derlei, o olhar de Pedro Emanuel, a irreverência de Carlos Alberto, os 0-5 em Bremen, 2-3 em Milan, 2-1 ao Real e confesso que por diversas vezes as lágrimas estiveram para rolar pela cara. Vi os nossos campeões de outras modalidades, que tantas alegrias nos trouxeram ao longo da história, e que tanto contribuíram para enriquecer a nossa sala de troféus (porque o F.C.Porto não é só futebol). Estive ali ao lado dos jogadores do nosso XI ideal, e pensei na quantidade enorme de jogadores de elevada que não teve hipótese de ali estar, mas que o merecia de igual forma. Ouvi e revi-me nos tributos sentidos de algumas personalidades afectas ao Porto e que sentem este clube da mesma forma que eu e tantos outros portistas.

Cheguei ao fim da visita, ao som dos mesmos cânticos que ecoam nos nossos ouvidos a cada jogo do nosso Porto, com uma sensação indescritível de honra e orgulho neste clube. Passamos a vida a dizer que não precisamos de viver do passado, como os nossos rivais. Mas isso é da mais elementar injustiça para todos aqueles que ajudaram o F.C.Porto a ser o que é nos dias de hoje. O nosso passado faz parte daquilo que somos hoje e isso só deve deixar-nos honrados. É isso que faz do Porto um Grande, dentro e fora de portas, e é isso que devemos relembrar a todos quando nos tentarem rebaixar.

                Somos um clube com História, que vai decerto acrescentar mais capítulos de sucesso enquanto caminharmos por este mundo. 

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