quinta-feira, 9 de abril de 2015

Porto vs Estoril

Fonte: zerozero.pt
Resultado e exibição. É nesta dicotomia que reside grande parte do equilíbrio do desporto, sendo certo que queremos sempre que o primeiro factor seja o positivo, não é menos verdade que uma época de grandes resultados e exibições magníficas enche-nos mais a alma do que uma época de grandes resultados e exibições q.b., ou vice-versa. Evidentemente, todos os tipos de combinação podem acontecer no decorrer duma época, e embora fosse excelente que o F.C.Porto estivesse a ganhar 5-0 aos 20 minutos da 1ª parte de grande parte dos jogos, há sempre aquela "coisa" que se chama "adversário" do outro lado que - espantem-se - também tem objectivos para cumprir (independentemente da qualidade dos intervenientes).

Ora, neste jogo, penso que se conseguiu um resultado óptimo, numa boa exibição. Não foi excelente. Não foi q.b.. Foi boa.

E se a considero "só" boa, em nada se deve a alguns sinais de nervosismo que - especialmente durante os primeiros 20/25 minutos - a equipa denotou, especialmente no capítulo do passe. O que mais me preocupou, independentemente do resultado obtido, foram alguns sinais de "regressão" no capítulo da reacção á perda de bola, e na constante sensação de faltar alguém a aparecer entre linhas no meio campo efensivo. Foi nesse capítulo que mais evoluímos entre os meses de Fevereiro e Março, mas penso que foi isso que mais faltou nas 2 últimas partidas. E acredito que isso também terá que ver com a quebra de rendimento de Herrera, e com a ausência de Jackson.

Também me tem preocupado algum cansaço em algumas pernas da zona do meio-campo. O que será normal, tendo em conta as exigências dos últimos meses, mas não deixa de ser algo preocupante.

Fica na retina a forma alegre como a equipa jogou, especialmente depois de ultrapassada a barreira mental do 1º golo. E também o facto de nunca se ter tirado o pé do acelerador, apesar do jogo estar decidido ao intervalo.

Vamos a notas.

Positivo (+)

Post-match meeting - A vida bluegosférica trouxe-me muitas boas surpresas. Duas dessas surpresas, transformaram-se em saudáveis, seguras, saborosas amizades. Falo, obviamente, do Miguel Lima e do Jorge Vassalo, brilhantes escribas dos não menos brilhantes Tomo III e Porto Universal, que já há muito tempo fazem parte da minha consulta diária. Desta vez, a cereja no topo do bolo, com a presença dos ilustres companheiros de luta do Jorge, Ana e João, de quem já muito ouvira falar. Muito embora o tempo tenha sido curto para tanto que havia (e há) para conversar, é também por isto que vale sempre a pena uma deslocação ao Dragão, numa 2ª ou num Sábado, com chuva ou com sol. Para mim, o "6º golo do jogo". 

Quaresma - MVP, sem margem para qualquer dúvida. Quaresma foi hoje um jogador de 90 minutos, incansável na forma como aparecia a dar linhas de passe, sublime nas combinações ofensivas com Danilo, mágico sempre que optou pelo 1x1, tirando aqueles cruzamentos com veneno que só ele sabe tirar. Um Quaresma batalhador e sempre ligado á corrente (ainda que, especialmente na transição defensiva, nem sempre o tenha feito da melhor forma, como direi à frente), como se deve esperar dum jogador com a sua experiência e "estatuto" no seio duma jovem equipa. Chapeau!

Dupla M&M Renovada - Decorriam os 10 primeiros minutos e já Alex Sandro levava mais bolas ganhas pelo ar do que Indi. Já pensava mentalmente que teria de "cascar" no rapaz outra vez, sempre devido ao mesmo problema. Mas Indi provou ao longo dos 90 minutos que a noite de 2ª Feira era uma noite de segurança lá atrás. Quanto a Marcano, tirando alguns passes longos muuuuito mal medidos, presentou-nos com a sua habitual qualidade. E sobreviveu a nova tentativa de homicídio de Fabiano. Neste momento, pelo menos com Marcano presente, as duplas M&M que podemos ter em campo dão todas as garantias de segurança.

Brahimi - Concedo que o argelino pode abusar um pouco nas tentativas de lance individual. Ainda assim, não temos qualquer outro jogador que consiga prender e fixar 1, 2, 3 ou 4 adversários junto à linha, soltando nos colegas na zona mais central, e criando inúmeras situações de desequilibrio/superioridade numérica noutras zonas. Na 1ª parte, Quaresma e Danilo tiveram quase sempre grande parte do corredor direito em modo "auto-estrada" e em muito o devem ao argelino. Uma pena aquele lance em que a categoria que revelou ao aparecer em zona frontal e retirar 2/3 defesas do caminho, tivesse faltado na finalização.

Danilo - Não conheço muitos jogadores com a força mental para fazer um jogo tão bom, dias depois de se saber que seguirá para um colosso Mundial como o Real Madrid. Danilo foi... Danilo. Como sempre nos habituou, mesmo nos jogos menos conseguidos. Incansável a defender, a atacar, a comandar (como um verdadeiro capitão deve fazer), não desistindo de nenhum lance, nunca virando a cara à luta, coroando a exibição com um golo sublime, em jogada por si iniciada. Danilo vai deixar MUITAS saudades.

O 4º golo - Uma jogada de futebol absolutamente maravilhosa. Como é que se diz? Um golo a transbordar de "nota artística"!


Negativo (-)

Herrera - Está de rastos o nosso mexicano. E quando Herrera está de rastos, a equipa ressente-se (especialmente Óliver, forçado a correr o dobro e sempre sem apoios frontais seguros, também por não haver Jackson, mas muito por haver um fantasma no lugar de Herrera). Na Choupana já tinha sido dos primeiros a ficar com os "bofes de fora". Na 2ª Feira, foi por demais evidente que está num delicado momento de forma.

Quintero - Quando foi chamado a jogo, pensei que fosse a noite em que ia regressar em grande. Que íamos ver um Quintero com atitude competitiva adequada a um clube como o F.C.Porto. Quando Hernâni decidiu arriscar o remate em vez de lhe endossar a bola (que, sem dúvida, seria a melhor opção), consegui ver as "trombas" que colocou, lá do alto, da fila 21 da Arquibancada. E percebeu-se que o amuo se manteve, principalmente porque Hernâni, uns minutos depois, voltou a preferir o remate, ao invés do passe (aqui, duvido que o passe fosse a melhor opção. Para meninos como Quintero tenho pouca paciência, confesso. Muito pouca, por sinal. Se o menino quer jogar mais, tem semanas após semanas de treinos para o demonstrar. E tem os jogos, seja durante 90, 120, 45 ou 5 minutos. E se Quintero prefere andar de beicinho em vez de jogar futebol, porque o colega do lado foi mau e feio e não lhe passou a bola, então mais vale ir para o Bursaspor desperdiçar o seu talento. Aqui, tenham paciência, não quero disso.

A reacção à perda de bola - Péssima, desorganizada, quase sempre com um péssimo timing, e com péssima harmonia colectiva. Vou dar aqui um exemplo, dum jogador que está nos +, e este exemplo em nada belisca o que disse do mesmo jogador: Quaresma. Todo o Mundo delirou com a sua recuperação de bola já perto do final, sobretudo pela forma como correu desalmadamente, quando o jogo estava "feito" e poderia já convidar a gestão de esforço. Eu digo, e espero que não levem a mal, que foi preciso chegar quase aos 90 minutos para ver uma situação de pressão defensiva de Quaresma a ser relativamente bem feita. Isto porque o nosso rapaz (e não só, mas como peguei nele para dar o exemplo, assim continuarei) passou grande parte do jogo a fazer sprints enormes, chegando à bola sempre tarde, desequilibrado, sendo quase sempre facilmente ultrapassado com um simples toque para o lado. Ora, o que é isso de "reacção à perda de bola"? É aquilo que a equipa deve fazer, colectivamente, sempre que perde a posse da bola, para a reconquistar o mais rápido possivel. Para que tal aconteça, é necessário que todos os sectores estejam próximos, que todos os jogadores estejam bem posicionados e, sobretudo, posicionados em relação à zona onde está a bola. E isso nem sempre acontece; ou se acontece, é apenas de forma parcial, porque há um maluco qualquer que decide desatar em correrias perfeitamente escusadas atrás duma bola que não traz perigo (como quando é passada ao guarda-redes adversário, e o Aboubakar, que está a 40 metros, acha que consegue pressioná-lo se correr na sua direcção), e apanha os restantes companheiros em contra-pé (ou contra-mão, como preferirem). Pressão alta não é ter jogadores a correr desalmadamente na direcção da bola, ou do adversário. Agressividade não é ter os jogadores a fazer carrinhos de dentes cerrados. Defender tem tudo que ver com posicionamento. E só quando a equipa funciona em bloco, tornando muito difícil que um sector seja ultrapassado sem que o sector seguinte esteja pronto a recuperar a bola logo a seguir, em que os jogadores estão próximos e, para além de pressionar o portador, pressionam também as linhas de passe mais próximas, só aí se pode considerar que a tal reacção à perda da bola está a ser bem feita. A nossa, não foi boa, não foi competente, e contra um Bayern ou Benfica, TEM de ser MUITO melhor. Mas muito!

3 pontos de diferença para o 1º classificado, numa jornada a anteceder uma difícil desclocação a Vila do Conde. Manter o bafo quente a bater no pescoço, orelhas e costas do Benfica, até ao jogo da Luz é o mínimo que se "exige". Sempre com bons resultados e... que se fodam as exibições, que nesta altura da época, já não há espaço para "floreados".



   

4 comentários:

  1. Superior crónica à lá Z.

    Apenas dois pequenitos reparos:

    - A perda de bola acho que teve mais a ver com um meio campo em sub-rendimento do que outra coisa qualquer. Acho que o Óliver pós-lesão ainda não tem o mesmo ritmo, embora muito melhor que no jogo-que-não-deve-ser-nomeado, e Herrera simn, nitidamente cansado. Sem box-to-box é mais dificil. O Herrera em forma faz muita pressão e ocupa os espaços - nem sempre bem é certo. Uma combinação Óliver atrás Evandro à frente se calhar dava um descanso ao Herrera contra a Académica.

    - Em relação ao Aboubakar, vê-se que se está a esforçar e nota-se que ainda não está feliz com o seu desempenho - o que é muito bom. Já agora, juntar uma nota de que o Abou estava SEMPRE a criticar a falta de bola nos pés dele, o que tem toda a razão. Já no jogo-da-ilha ele mandou vir com o Quintero, que o mandou cozer com f.

    E por falar nesse menino, o ar de frete dele já irrita. Guia de marcha na próxima temporada, até porque o Bueno vem fazer de médio-ofensivo, como ele disse. Um 10 a sério, daqueles que defende também. Por isso 20M pelo Quintero e toda a sorte do mundo.

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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  2. @ Z

    'celente' análise, como sempre.
    só duas coisitas mínimas:
    1)
    falta aí um mais ao encontro pós-jogo, que foi muito bom (e não vou afirmar te até te deu algumas ideias para a prosa acima. não vou! :D )

    2)
    Quintero, nos últimos três jogos em que participou, no meu entendimento, abriu as portas para uma saída de sendeiro do FC Porto. totalmente de acordo com o que escreves sobre o amuo.

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Miguel, Jorge, Ana e João,

      Que erro estúpido... Corrigi-lo-ei assim que possa!!
      É o que da escrever a crônica quase uma semana depois... Porra!

      Mas claaaaaaro que NÃO fui ao nosso encontro buscar ideias, ora essa...

      Pfffff

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  3. deixem-nos sonhar.
    e é só: deixem-nos sonhar.

    ainda estou num sonho bom. e confiante, independentemente do que possa vir a acontecer.

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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