terça-feira, 3 de junho de 2014

O Discurso

Desde que me lembro de ver o F.C.Porto com olhos mais "adultos" que a comunicação do clube sempre foi gerida de forma sagaz, principalmente em alturas de grande contestação, quer no conteúdo, quer no timing das intervenções. Os treinadores, neste capítulo, quase nunca constituíram excepção. Era demasiado novo na altura de Carlos Alberto Silva, mas desde aí até então, tivemos treinadores práticos e directos nas análises (Oliveira e Adriaanse), serenos e conciliadores (Jesualdo, Fernando Santos e Robson), "arrogantes" - no bom sentido - e agressivos (Mourinho e Vitor Pereira), confiantes e motivadores (AVB). Octávio era (e continua a ser) um paranóico das conspirações enquanto que Fernandez e Couceiro eram, ainda assim, elegantes no uso do verbo, mas duvidavam demasiado das suas capacidades técnicas (que continuo sem perceber se tinham). Depois veio PF...

Foto retirada de site da UEFA.

Confesso que, por ter depositado esperanças no treinador desta época (acompanhei algumas das suas anteriores aventuras e admito que gostei do seu trabalho noutras equipas), me custou - a triplicar - o seu falhanço no decurso desta época. As razões técnico-tácticas serão abordadas noutros posts, mas a vertente do discurso de PF no decorrer dos 9 meses de trabalho, conseguiu entrar para o TOP dos piores treinadores que temos tido no nosso clube neste capítulo -  segundo dizem, só ao nível de Quinito.

Não tenho absolutamente nada contra um treinador que, no final de um jogo em que a equipa notoriamente esteve mal, tenta passar a mensagem de "Não foi assim tão mau, tivemos algum azar, continuamos a ser fortes...", desde que no balneário desfaça os cacifos aos murros e tente dar pontapés nas chuteiras, garrafas de água (tudo o que for possível pontapear) com o objectivo de acertar em alguém (desde que não seja o Mangala, porque pode correr mal...), um pouco à imagem do que fazia Sir Alex no United. Passar para fora a imagem de ter tudo controlado, mas passar uma mensagem interna diferente.

Não podemos ter um comandante que regue todo o seu discurso de "lugares comuns" como "Fomos Porto", "Temos de levantar a cabeça...", "Assumo as responsabilidades". Que se renda à inevitabilidade e diga que "Demos a primeira parte de avanço", ou "Não estivemos bem no capítulo defensivo" com a naturalidade com que no Porto se diz c*ralho. Que se escude no "azar" depois de perder pontos contra adversários patéticos. 

Grande parte do trabalho do treinador, é a construção da credibilidade. Recordo que um treinador bi-campeão no F.C.Porto, Vítor Pereira, saiu com um registo algo periclitante neste aspecto. Víamos que era um homem de convicções mas que nem sempre conseguia passar a mensagem da melhor forma. Jesualdo saiu com uma época fraquinha, mas construiu um muro de credibilidade que ninguém ousou atacar. Com todo este historial, PF falhou em toda a linha. Nunca sentimos convicção, realismo, atitude, capacidade de resposta que pudessem dar base a alguma credibilidade. 

Depois, quando o barco começou a afundar-se em definitivo, lá entrou para o anedotário nacional. Acabávamos de assinar a exibição mais nojenta, medrosa, medíocre, de que tenho memória no Estádio da Luz e o que diz PF? "Tenho uma confiança cega que vamos ser campeões". Ninguém, nem mesmo ele, acreditou que tal fosse possível, nem que metade das equipas de Benfica e Sporting fosse acometida por um vírus que os deixasse indisponíveis para o resto da época e o F.C.Porto fosse buscar Ronaldo, Messi e Ibrahimovic no mercado de Inverno.

Tudo culminou com aquele triste final de linha, com os jogos com o Frankfurt, e a rábula do "Borussia, Bayern e Leverkusen", que o colocou lado a lado com Jesus nas melhores gaffes desportivas dos últimos anos. 

Isto fragilizou ainda mais uma equipa que já era feita de pedaços de papel colados com saliva; fragilizou um clube que deu tiros nos pés consecutivos desde Maio do ano passado e os adeptos mais não puderam fazer a não ser esconder a cara entre as mãos e rezar pelo fim do martírio.

A entrada de LC trouxe algumas melhorias numa primeira fase, embora tudo se tenha desmoronado pouco tempo depois (com uma certa naturalidade...). Contudo, só a diferença de discurso que houve foi tão notória que até os jornalistas estranharam. LC entrou para a galeria de Couceiro e Fernandez e a sua serenidade, inteligência e educação foram uma lufada de ar fresco na "voz" do nosso clube.

Aguardo ansiosamente pela próxima época para ver que tipo de comunicador é Lopetegui. Desejo ardentemente que seja melhor do que PF. Quero ver respeito e educação. Quero ver capacidade de reacção. Quero ver confiança (não arrogância) nas palavras. Quero sentir que é possível dar a volta ao cenário mais negro só pelas palavras do comandante (tipo Mourinho contra Panathinaikos).

Quero ver e sentir credibilidade!

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