sexta-feira, 25 de abril de 2014

Moyes: a tarefa impossível de suceder a Sir Alex Ferguson

Nunca escondi que, em Inglaterra, o meu clube de eleição é o Manchester United. Como tal, esta temporada tem sido absolutamente desapontante, não só pelo facto de ter conseguido acompanhar menos jogos do que o habitual (maldita Benfica TV...), mas também porque nos jogos que vi, o futebol praticado pelos meus diabos de vermelho (diabos vermelhos, nunca!) atingiu níveis semelhantes aos dos juniores B do Sousense, que jogam descalços e em pelado. Agora que o Moyes foi demitido, e que o United tem hipóteses quase nulas de se qualificar para a Liga Europa (!) - United que detém, a par do F.C.Porto o recorde de presenças na fase de grupos da Champions League -, vou mandar aqui uns bitaites sobre a temporada do clube, e sobre a performance de Moyes, e que futuro esperará o meu querido United (watch and learn Luís Freitas Lobo).


Os Resultados

Premier League e Taças   
De realçar que a época do United até começou da melhor forma, com a vitória obtida na Community Shield por 2-0 frente ao Wigan

 Depois começou o pesadelo do campeonato.

                                     
Oh, sim, os resultados meu caro Moyes... Internamente, uma enorme desgraça. Se na condição de visitante, os resultados não foram desapontantes de todo (para ser simpático) - registo de 33 pontos em 54 possíveis, o que nem é muito negativo, se tivermos em conta a elevada competitividade da Premier League - em casa o panorama muda para cores bem escuras - 24 pontos em 48. Leram bem, metade dos pontos possíveis de conquistar no temível "Teatro dos Sonhos". Liverpool e City passearam em Old Trafford, com 0-3, sendo que também Newcastle, Tottenham (igualmente horrível esta época), W.B.A. e Everton também de lá saíram com os 3 pontos. Muito fraco para um crónico candidato ao título.

Na FA Cup, uma eliminação humilhante contra o Swansea, também em casa por 1-2, naquela que foi a primeira vitória de sempre dos galeses em Old Trafford.

Na League Cup, derrota nas meias finais, após grandes penalidades, contra o "fortíssimo" Sunderland.

Champions League
Terá sido a única competição em que o United teve um desempenho relativamente normal. Na fase de grupos, ficou em primeiro, sem derrotas, num grupo com Leverkusen, Shakhtar e Real Sociedad. Nos oitavos, fez uma exibição miserável em Atenas, frente ao Olympiakos, e só por muito boa vontade dos deuses do futebol (e alguma falta de qualidade dos jogadores do clube grego) não saiu vergado a uma derrota histórica.

Fez uma recuperação notável em Old Trafford (talvez o único jogo em que o temível "Teatro dos Sonhos" realmente o foi, virando o 0-2 da 1º mão para 3-2, mas não se livrando de acabar o jogo com o coração nas mãos. 

Nos quartos de final, pese embora as dificuldades que apresentou ao campeão europeu Bayern, acabou por sucumbir à falta de eficácia da 1ª mão (1-1), e não conseguiu aguentar a vantagem de 1-0 em Munique - golaço de Evra - mais do que dois minutos, acabando por perder 1-3. 

O Plantel
Desequilibrado e um pouco envelhecido, do meu ponto de vista. Ferdinand, Vidic, Evra, Carrick, Flecther, Young são jogadores que dividem o seu tempo entre o relvado e a enfermaria, e as alternativas Phil Jones, Evans, Cleverley e Smalling são demasiado fracos para sequer sonharem estar num clube desta dimensão. Fellaini demora a demonstrar o potencial evidenciado em Liverpool, pelas mãos do mesmo Moyes e só Rooney, Van Persie e Januzaj (o míudo maravilha, de nacionalidade múltipla) sobressaíram nesta época medonha. Mata veio dar criatividade e qualidade ao ataque do United, mas chegou já tarde demais. Giggs, continua a ser Giggs; classe, classe, classe, mesmo a passo... Mas não haverá Giggs por muito mais tempo (pelo menos no relvado, e com muita pena minha). 
Na baliza, De Gea tem dado conta do recado (quem ganhou tanto com Barthez, não se pode queixar), e Lindegaard é um bom nº2.


A Táctica
Durante muitos anos, Fergie provou que o seu 4-4-2 mais clássico nunca envelheceu verdadeiramente. Foi sofrendo adaptações de ritmo e algumas nuances posicionais, mas sempre se baseou numa busca incessante de um jogo rápido e directo, saltando muitas vezes as fases de construção mais elaboradas atrás, fazendo uso dos velozes alas que sempre teve à sua disposição, e da mobilidade e movimentos de ruptura da dupla de avançados - quem não se lembra da dupla Yorke-Cole? - que tornavam o United numa máquina trituradora, sobretudo quando era necessário obter golos a todo o custo. 
United de Moyes? Zero!
Um 4-2-3-1 previsível, demasiado defensivo, com imenso espaço entre sectores, médios de características demasiado iguais, uma defesa demasiado lenta e permissiva e muito pouca imaginação na definição de jogadas ofensivas. Muito jogo lateralizado e muitos cruzamentos inconsequentes. Em suma, o United foi este ano uma equipa talhada para os jogos fora de casa. Contra equipas de alta qualidade, foram sempre atropelados (Liverpool e City) e contra equipas bem organizadas (W.B.A. e Everton) teve sempre inúmeras dificuldades. Em casa, pela necessidade de assumir o jogo e da desorganização colectiva, os resultados foram catastróficos. Equipas fechadas e de contra-ataque sentiram-se como peixe na água esta época em Old Trafford.

Penso que o Manchester United-Fulham - que tive o prazer de ver, a beber uma bela Pint, num pub em Aylesbury - prova um pouco tudo isto. O United bateu o recorde de cruzamentos num só jogo - 81 (!) e só Vidic e De Gea não efectuaram nenhum nessa partida. O Fulham estava em último por essa altura, e conseguiu sair com um empate, tendo feito menos de 1/4 dos ataques e 1/5 dos remates (e 1/100 dos cruzamentos), da forma mais natural e previsível possível. 

Moyes
Um fracasso total. A aposta de Sir Alex para esta temporada revelou-se desastrosa. A empreitada de substituir uma lenda do futebol mundial, com um currículo recheado de títulos e que, de forma indelével, alterou para sempre a face do United na Europa e no Mundo, merecia um timoneiro de personalidade forte, que soubesse aproveitar o legado deixado por Ferguson, que soubesse dar forma á necessária renovação do plantel, sem descurar a qualidade de jogo e a fome de títulos, de um gigante do futebol mundial. 

Saiu tudo ao contrário.

Moyes nunca pareceu ser homem para tal tarefa, visto que nunca percebeu a grandeza do clube que orientava. O discurso foi quase sempre fraco, e desde cedo se percebeu que os jogadores (muitos deles já com pouco a provar) não estavam com ele. Van Persie chegou a pôr em causa os seus métodos de treino, e no final do jogo em Atenas, criticou abertamente o esquema táctico da equipa. Ferguson sempre foi conhecido pelo seu mau feitio, mas a verdade é que isso fez com que os jogadores do United nunca se comportassem como prima-donas. Ao mínimo deslize, PUMBA, lá ia uma chuteira na direcção da cabeça do infractor. Moyes nunca teve o dom de segurar os egos da equipa. Mas foi na parte táctica e de construção do plantel que Moyes mais se equivocou. A equipa nunca se sentiu confortável com o esquema táctico e a falta de um jogador criativo que fizesse a ponte entre o meio campo e o ataque causou mossa. Mata trouxe melhorias nesse aspecto mas havia já muitos pontos perdidos, muitos jogos péssimos para trás, e os adeptos já tinham percebido que este não era mesmo o "Chosen One" havendo, desde cedo, um claro divórcio entre adeptos e treinador. A entrada de Fellaini foi um falhanço quase total, e só a "oferta" de Mata pelo Chelsea (ai Mourinho, Mourinho...) e a aposta no jovem Januzaj trouxeram melhorias à equipa.
Aqui, Sir Alex tem de assumir parte da culpa. Foi sua esta opção, e o fracasso também é seu. E a prova de que no desporto tudo é efémero, está no facto de os adeptos não perdoarem esta falha ao treinador que lhes devolveu, durante os últimos 27 anos, a grandeza do magnífico United dos "Busby Babes". 
A tarefa não será fácil, mas um clube com esta grandeza vai decerto saber dar a volta ao texto.
Moyes sai com um registo de recordes negativos interessante (afinal não és só tu Paulo Fonseca!):

  • Primeira derrota caseira com W.B.A. desde 1978
  • Primeira derrota caseira com o Newcastle desde 1972
  • Primeira derrota caseira com o Everton desde 1992
  • Primeira derrota caseira de sempre com o Swansea
  • 3 derrotas consecutivas pela primeira vez desde 2001
  • Primeira derrota para a Liga com o Stoke desde 1984
  • Pior registo caseiro da última década
  • Primeira eliminação na 3ª Ronda da FA Cup
  • Nunca o United esteve em 7º lugar (posição actual) na última década
  • Mais derrotas com Moyes do que nas últimas 3 temporadas com Ferguson

Em suma, um despedimento que não pode surpreender ninguém...



Sem comentários:

Enviar um comentário